domingo, 21 de junho de 2009

Look at me I'm Sandra Dee



Na minha adolescência o Verão era extra-longo e muito pequeno o mundo ao nosso alcance. Na festa dos meus 12 anos, num dia tão sufocante como o de hoje, o meu primo apanhou tosse convulsa depois de ter dançado toda a banda sonora de «Grease» com uma pequena e dengosa ruiva. Como era um duplo álbum, a dança permitia os vários tipos de contágio habituais nessas idades.
Era o disco que animava todas as festas da vizinhança. Olivia Newton-John e John Travolta, transplantados do final da década de 70 (em que estávamos) para os 50's, num musical que reconstituia com mérito o ambiente da América de Elvis e James Dean. Víramos o filme no cinema de bairro e, apesar da trepidação e barulheira dos comboios que passavam mesmo ao lado, parecia-nos que nunca mais seria possível alguém fazer tão perfeita obra prima como aquela em que rapazes cheios de brilhantina cantavam em cima de Cadillac's cintilantes. Verdadeiras e dedicadas fãs, comprávamos cadernos com as fotos do filme, sabíamos de cor as letras das canções, discutíamos se a doce Sandra Dee devia ou não transformar-se na provocante Sandy da apoteose e, obviamente, sonhávamos com um amor assim, com os mesmos olhos azuis de Travolta, revelado em todo o seu esplendor num baile de finalistas.
Com os 37 graus que estão lá fora, ponho a tocar, na semi-obscuridade da sala, o CD com a banda sonora de festas de aniversário de há quase 30 anos. Todos nós mudámos (e ainda bem), distanciámo-nos, em alguns casos irreversivelmente, mas o Verão, esse, continua igual. Lânguido, poderoso e eterno.

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