sexta-feira, 1 de maio de 2009

O sonho do Cinema


Num destes dias, a pressa à mistura com a obrigação duma apresentação digna levou-me a trocar, momentaneamente, de cabeleireira. Foi aí que conheci uma dessas jovens brasileiras cuja aptidão natural para o atendimento público melhorou consideravelmente a qualidade do comércio lisboeta. Natural do Rio Grande do Sul, contou-me boa parte da vida nos escassos quinze minutos em que se ocupou da minha excelentíssima melena. Não era propriamente uma garota de Ipanema, mas alimentava o sonho de vencer na Europa, graças a enormes doses de simpatia e muitas horas de trabalho. O que nunca seria - anunciava - era uma dessas «marias chuteiras», o que, na grande criatividade vocabular dos brasileiros, significa mulher que corre de futebolista em futebolista até acumular pé-de-meia que a conforte quando escassearem os encantos. Nas suas palavras adivinho uma linhagem de lutadoras, alimentadas, na labuta diária, por sonhos secretos. «Minha mãe amava cinema», disse-me ela, quase no final da função. «Por isso, me deu esse nome». Qual?, pergunto, já a imaginar Gildas&Marlenes. Ela sorriu, subitamente coquette nos seus oitenta kgs: «Audrey!»

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